terça-feira, 29 de novembro de 2016

Quinta do Vallado: celebrar 300 anos com um vinho mítico


Da Quinta do Vallado se poderia repetir a célebre frase da Baronesa Philippine de Rotschild: «Fazer vinho é um negócio razoavelmente simples; o difícil são só os primeiros 200 anos!» Só que neste caso, os antecedentes e os pergaminhos conseguem ainda ir 100 anos mais longe. Segundo a documentação existente, data de 1716 a constituição desta histórica quinta do Douro que, um século depois, em 1818, entrava na posse da família que ainda hoje a detém, pela mão de António Bernardo Ferreira, filho primogénito de Dona Antónia, a Ferreirinha.

Aproveitando o Encontro com o Vinho e Sabores, a Quinta do Vallado, nas pessoas dos seus dois administradores João Alvares Ribeiro, Francisco Ferreira e o enólogo consultor Francisco Olazabal, todos eles tetranetos de Dona Antónia,  entendeu celebrar estas duas datas históricas próximas, apresentando à imprensa e clientes as suas duas mais recentes novidades. Como não poderia deixar de ser, tratou-se em primeiro lugar de exaltar o passado, com a apresentação de um vinho do Porto mítico e esmagador, o Vallado ABF 1888, ao mesmo tempo que se deixava adivinhar alguns dos caminhos que o futuro nos reserva com a prova do primeiro vinho do Douro Superior da Quinta do Orgal, recentemente adquirida pela empresa.


A Quinta do Orgal, em Vila Nova de Foz Côa, já tinha sido notícia pelo facto de ter visto ali nascer uma unidade de enoturismo absolutamente exemplar, tanto pela arquitectura da sua construção e da ocupação do espaço como pelas preocupações de sustentabilidade e equilíbrio ecológico que presidem a todo o projecto. No que à vinha e ao vinho diz respeito, apesar da sua juventude, é um empreendimento muito pensado, amadurecido. A quinta foi comprada parcela a parcela, num jogo de persistência e paciência. A plantação da vinha foi feita de raiz, pois ali não existiam cepas nem memórias delas. A opção pelo orgânico surgiu com naturalidade, dadas as condições climatéricas do Douro Superior e das possibilidades que a viticultura ali abre.  Mas a boa notícia é que agora os enófilos já podem provar o primeiro vinho ali produzido, feito a partir dos primeiros 30 hectares de vinhas novas: o Vallado Douro Superior Organic Vineyards 2014. Trata-se de um blend de Touriga Nacional, Touriga Franca e uma pequena percentagem de Sousão que teve um estágio em madeira usada, de forma a preservar a boa qualidade da sua fruta vermelha de . Na prova, o vinho surpreendeu francamente. Pelos aromas limpos e finos de fruta vermelha de qualidade, pela sua frescura, polimento e concentração, notável feito se pensarmos que veio de uma vinha plantada há pouco mais de três anos. Um nova referencia a seguir com atenção em próximas colheitas.



Mas as atenções da apresentação da Quinta do Vallado estavam inevitavelmente voltadas para a prova do super Tawny ABF 1888. O vinho é proveniente de vinhas pré-filoxericas e foi produzido por um pequeno viticultor do baixo Corgo, vizinho da Quinta do Vallado que o guardou em cascos de 650 L, onde sempre se manteve. Mais de um século depois, o vinho que restou, aproximadamente 700 L foi adquirido na totalidade pela Quinta do Vallado que o engarrafou e agora lançou para a comemoração dos 300 anos da constituição da propriedade. Um vinho de luxo teria que ter uma apresentação de luxo. As 933 garrafas de 75 cl, são numeradas e embaladas num requintado estojo de madeira de nogueira maciça feito à mão por um artesão especializado e são acompanhadas por um decanter de cristal produzido pela Atlantis que é uma réplica do decanter original utilizado pelo próprio António Bernardo Ferreira em 1830. É um vinho excepcional, de grande complexidade aromática, de textura viscosa, grande concentração e com uma acidez surpreendentemente viva que lhe permite uma nota de frescura que não adivinhávamos num Porto deste calibre. Ia dizer que termina longo mas é mentira! O vinho teima em não terminar e até o copo já vazio pode perfeitamente fazer-nos companhia por muitas horas, prolongando o prazer pela noite fora. Um vinho raríssimo e com um preço que pode parecer escandaloso para muitos (3.500€!) mas que traduz o crescente interesse e procura de certos mercados por produtos de hiper luxo. Ver um vinho do Porto atingir tal patamar, afinal, só nos pode encher de orgulho.

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