segunda-feira, 30 de maio de 2016

José Rodrigues dos Santos e a apologia do disparate



Agora temos um apresentador da televisão e autor de best sellers a imitar outros best sellers, a anunciar ao mundo a grande descoberta da filosofia política do seculo XXI: que o fascismo tem origem no marxismo! E perante a incredulidade generalizada, deu-se ao trabalhio de escrever um artigo no Público (vejam lá onde!) a tentar demonstrar isso mesmo. A prova insofismável, diz ele, é que o Mussolini teria sido marxista antes de fundar o fascismo italiano. 

Como diria o nosso Sá de Miranda, «me espanto às vezes, outras me envergonho» com esta cultura de pacotilha colada às três pancadas que assim tem acesso aos media e à (suposta) respeitabilidade. 

Mas o argumento é delicioso. Usando a mesma argúcia imbatível, e vendo o percurso de vida de alguns dos antigos lideres e actuais gurus dos partidos da direita como Durão Barroso e o José Manuel Fernandes do Observador, por exemplo, podemos dizer que o o liberalismo luso teve origem no maoismo? Será o PSD, afinal um filho do marxismo-leninismo? Aguardo os brilhantes desenvolvimentos do José Rodrigues dos Santos.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Concurso de Vinhos do Douro Superior

Estes foram os vinhos premiados no V Concurso de Vinhos do Douro Superior cujos resultados foram ontem, dia 22, anunciados em Vila Nova de Foz Coa.
Parabéns aos premiados!




Categoria Vinho BRANCO
Melhor Vinho Passagem Douro Reserva branco 2015
Medalhas  de Ouro Castello D'Alba Douro Reserva branco 2015
Bagulho Douro branco 2014
Muxagat Os Xistos Altos Douro branco 2012
Papa Figos Douro branco 2015
Quinta da Pedra Escrita Douro branco 2014
Quinta da Sequeira Douro Reserva branco 2014
Terras do Grifo Grande Reserva Douro branco 2013
Medalhas   de Prata
Cadão Douro branco 2015

Dona Berta Vinhas Velhas Rabigato Douro Reserva branco 2015
Duas Quintas Douro Reserva branco 2014
Golpe Douro branco 2014
Palato Códega do Larinho Douro branco 2015
Quinta da Sequeira Rabigato Douro branco 2015
Quinta da Silveira Maceração Pelicular Douro branco 2012 
Quinta Vale d' Aldeia Alvarinho Regional Duriense branco 2015
Vale da Veiga Douro branco 2014 s
Categoria Vinho TINTO
Melhor Vinho Quinta do Grifo Douro Grande Reserva tinto 2011
Medalhas   de Ouro Crasto Superior Syrah Regional Duriense tinto 2013
Dona Berta Douro Reserva tinto 2012
Quinta da Mieira Douro Reserva tinto 2012
Quinta da Sequeira Grande Reserva Douro tinto 2011
Quinta da Zaralhôa Douro Reserva tinto 2008
Quinta do Couquinho Douro Reserva tinto 2012
Quinta do Couquinho Douro tinto 2013
Selores Milagre Colheita Douro tinto 2013
Zom Coleçção Douro tinto 2012


Medalhas  de Prata In Culto Douro Reserva tinto 2011
Casa Ferreirinha Callabriga Douro tinto 2014
Duorum Reserva Douro tinto 2012
Escornabois Douro tinto 2014
Holminhos Touriga Nacional Douro Reserva tinto 2013
Perdigota Douro tinto 2014
Quinta da Fronteira Reserva Douro tinto 2012
Quinta de Lubazim Douro Grande Reserva tinto 2013
Quinta do Couquinho Touriga Nacional Douro Reserva tinto 2014
Quinta dos Quatro Ventos Douro tinto 2013
Quinta Vale d'Aldeia Douro Grande Reserva tinto 2013
Vale da Veiga Douro Reserva tinto 2012
Vale Marianes Douro tinto 2013
Vales Dona Amélia Douro tinto 2012
Xaino Selection Douro tinto 2013
Categoria Vinho do PORTO
Melhor Vinho Barão de Vilar Porto Colheita branco 2007
Medalhas  de Ouro Quinta da Silveira Porto Ruby Reserva 
Duorum Vinha de Castelo Melhor Porto Vintage 2013
Passagem Porto LBV 2010


Medalhas  de Prata Quinta do Grifo Porto Vintage 2013
Passagem Porto Vintage 2011
Porto Ferreira Quinta do Porto Tawny 10 Anos
Quinta do Vesúvio Porto Vintage 1995
RP Quinta da Ervamoira Porto Vintage 1994

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Vícios à mesa



Por razões profissionais e por prazer pessoal frequento com regularidade restaurantes em diversos pontos do país. E manda a verdade dizer que tenho assistido a uma notável melhoria de qualidade em muitos itens, sendo os mais importantes, como é evidente, as matérias primas, as técnicas de confecção e a forma como são apresentadas. Melhorou muito também, na grande maioria dos casos, o conforto dos clientes, a decoração dos espaços e a sua apresentação. Está ainda tudo muito longe de ser perfeito mas é inegável a evolução verificada.

Dito isto, há ainda aspectos fundamentais no negócio dos restaurantes que tardam a acompanhar esta evolução positiva. Em alguns casos, até pelo contrário, notou-se mesmo uma degradação sensível no serviço prestado aos clientes. Falo hoje concretamente do serviço de mesa, que considero o calcanhar de Aquiles desta actividade.

As falhas grosseiras, a falta de profissionalismo, a ignorância a arrogância e, em certos casos, a má criação muitas vezes substituíram sem vantagem algumas das velhas pechas no atendimento ao cliente,em muitos dos nossos restaurantes. E aqui o panorama é transversal: tanto ocorre nos estabelecimentos mais populares e tradicionais (e nem sempre mais baratos) como naqueles mais pretensiosos a atirar para o fino e com contas finais bem carregadas.

A maior culpa nem será dos próprios empregados de mesa, nem eles muitas vezes têm a noção das suas próprias limitações. Mas muitos empresários acham que vale a pena investir muitos milhares de euros em decoração, um pouco menos na contratação de cozinheiros e muito pouco na formação de quem recebe o cliente e o serve à mesa. A profissão, ainda com o estigma da palavra "criado" colada à função não é considerada  prestigiante de forma a atrair os profissionais qualificados que as Escolas de Hotelaria apesar de tudo vêm formando e os empregadores não a valorizam nem lhe reconhecem a importância.

Em alguns restaurantes ditos de fine dinning há agora a moda de ter um relações públicas, na maior parte das vezes uma simpática e bem parecida menina que nos conduz à mesa entre sorrisos e salamaleques. A verdade é que depois de sentados nunca mais lhe pomos a vista em cima, e os sorrisos acabaram nesse instante. É então que adquirimos o espantoso dom da invisibilidade que permite que muitos empregados passem por nós e não nos consigam ver por muito que esbracejemos e que requeiramos apenas um pouco de atenção. Algumas vezes ficamos com a nítida sensação que só somos atendidos quando eles finalmente consideraram que já penámos o suficiente por algum pecado passado que tenhamos cometido.

Em muitos restaurantes populares a rudeza sem cerimónias é o prato do dia :demora em levantar os restos da refeição anterior, limpeza da mesa às três pancadas com um pano húmido que já passou por todas as outras mesas, talheres atirados para cima do tampo, pratos colocados em pilha e o freguês que os distribua, pratinho com azeitonas que já vem com os caroços de outros clientes, entre outro conjunto de delicadezas very typical indeed.

Nos restaurantes finos e elegantes, (só em alguns deles, temos que ser justos) o que mais se destaca é a requintada sobrançaria. As batas negras impõem respeito, a pose é empertigada, o sorriso condescendente. Mas a impertinência depressa desaparece quando o discurso com a descrição do prato se engasga num termo de que ele desconhece o significado ou quando perguntamos que ingrediente é aquele e o moço bate em retirada a dizer que vai perguntar ao chefe. Santa nossa! É nessa altura que tenho por vezes saudade daqueles antigos profissionais, exímios de mãos, que despinhavam o peixe à nossa frente, trinchavam a carne ou desossavam uma ave com a precisão de um relojoeiro. A cozinha de sala está hoje fora de moda mas era um regalo para os olhos. Aqueles crepes flambeados á minha frente valiam a refeição.

Como podem as coisas mudar? Não há segredos, toda a gente sabe! É saber investir em recursos humanos da mesma forma que se paga em decoração ou se é exigente nos equipamentos, é pagar condignamente aos bons profissionais, de acordo com o seu mérito, é saber motivá-los e mantê-los empenhados  no projecto. É mostrar aos clientes que vale a pena ser exigente e que um melhor serviço é um valor acrescentado que que tem retorno.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Este treinador de futebol é um filósofo dos tempos modernos!


Vítor Oliveira de seu nome. Treinador de futebol com muitos anos de profissão, especializou-se nos ultimos tempos em levar equipas da 2ª liga a subir de divisão. Ano após ano, Vítor Oliveira pega em clubes pequenos mas ambiciosos e leva-os pelo íngreme trilho acima até alcançarem o objectivo sonhado: estar entre os grandes!. Não é fácil, presumo. Cada jornada é uma batalha, cada vitória um degrau, cada ponto perdido um escolho, mas no fim sobra a satisfação de jogadores, dirigentes, adeptos e populações. Mas o mais espantoso é que este brioso e competente profissional não fica ofuscado pelo êxito e recusa viver das glórias conquistadas. Atingido o objectivo de subir à 1ª divisão, ele não fica a colher os louros, as prebendas e as aclamações. Simplesmente, parte para outra. Aconteceu agora com o Desportivo de Chaves que há 17 anos militava no escalão secundário, viu confirmada a promoção antes da ultima jornada e já sabe que terá que mudar de treinador pois Vítor Oliveira declarou declinar a oferta para continuar. Para onde vai não sei. Um nova corrida, uma nova viagem!

Ora isto para mim é a ilustração mais evidente do célebre mito grego sobre Sísifo. Conhecem a história, presumo. Depois de uma série de ofensas aos deuses, Sísifo foi condenado por toda a eternidade a um castigo terrível: empurrar pelas suas mãos uma grande pedra montanha acima até ao cume e quando este, depois de grandes esforços, é alcançado, a pedra rola montanha abaixo e ele tem que começar tudo de novo. Outra e outra vez, para todo o sempre.

Albert Camus, escritor e filósofo francês, pegou neste mito e ilustrou com ele a sua teoria do absurdo. À primeira vista, a tarefa de Sisifo é um absurdo, um esforço sem sentido porque se sabe de antemão que é votado ao fracasso. Ele chega lá acima com o pedregulho mas este cai outra vez tornado assim inútil todo o esforço feito. E Camus vê aqui a busca de sentido de cada ser humano procurando conquistar uma felicidade e uma realização total que nunca acaba por alcançar, Tal como Sisifo, estamos todos condenados: grande parte da nossa vida é construída sobre esperanças do amanhã e afinal sabemos que no fim está a certeza da morte. Perante isto vale a pena o esforço? Camus acredita que sim, que é na realização da tarefa em si que temos que procurar a satisfação. É a subida que interessa, não o cume que não será atingido. E termina o seu ensaio com uma frase que li há muitos e muitos anos e que hoje ainda tenho presente. É preciso tornar, é preciso imaginar Sisifo feliz! O treinador Vítor Oliveira é de certeza feliz com o seu trabalho. Ele realiza-se na dureza do trabalho. É um exemplo para todos. Para mim, é o exemplo perfeito para aquilo que temos em mão.


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Um restaurante que vale a pena conhecer: Cave 23


Fomos ontem, num jantar informal com a família,, ao restaurante Cave 23, situado no Hotel Torel Palace, muito perto do elevador do Lavra, ali para os lados do Campo dos Mártires da Pátria. Apesar de fazer parte do referido hotel, o restaurante está aberto ao público e constitui uma excelente oportunidade para descobrir uma zona da cidade que passará despercebida de muitos visitantes e até moradores. Situado numa das colinas que tornam Lisboa um sítio único e mágico, com uma vista deslumbrante sobre a baixa e integrado num complexo que recuperou de modo exemplar duas mansões com mais de 100 anos, o restaurante, apesar de se situar numa cave como o seu nome indica, consegue apresentar um ambiente muito agradável e nada claustrofóbico.

Mas é a cozinha que define um restaurante e aí, confesso que descobri com prazer o trabalho de uma jovem chefe que merece desde já os maiores elogios. Diz-se no site do hotel, que Ana Moura depois de concluir a sua licenciatura em marketing descobriu a sua paixão pela culinária e passou por um conjunto de restaurantes de primeira linha, cá e lá fora, onde aprimorou técnicas e competências. Em boa hora o fez e a paixão pela comida reflecte-se naquilo que apresenta em cada prato.

Em todos os que apresentou no menu manifesto e ainda mais no menu alternativo que lhe solicitámos para uma comensal vegetariana, conseguiu uma feliz síntese entre os sabores com memória da cozinha portuguesa e uma certa irreverência interpretativa que casaram bem e provaram melhor. Aqui o produto é rei e os e os aromas e sabores são o foco da atenção. o que se torna evidente até como os pratos são apresentados na ementa, com a enumeração seca dos ingredientes mas sem referência às descrição das técnicas culinárias.

Na filosofia do restaurante o papel dos vinhos tem também uma posição de relevo, A lista não é longa mas é criteriosa nas escolhas e vai muito para além do banal, permitindo que o cliente possa também aqui fazer as suas descobertas. Todos os vinhos da carta estão também dsiponíveis a copo o que permite que o cliente possa jogar com várias posssibilidades de harmonização consoante o que lhe for servido. Gostei também de ver aqui a forte presença dos vinhos da região de Lisboa, o que faz todo o sentido para um restaurante que está na capital.

Em resumo, um restaurante que vale a pena conhecer e uma chefe que convém seguir com atenção.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

É dificil ser liberal em Portugal

http://observador.pt/opiniao/esta-direita-liberal-portugal/


Muito interessante este texto de alguém que se assume de direita mas não se revê nas posições que a direita tem tomado.A caixa de comentários então é um verdadeiro mimo para se perceber o que sempre suspeitei: a direita portuguesa é muito mais conservadora que liberal. E com isso tem entregado de bandeja a defesa das liberdades individuais a uma esquerda que também está longe de gostar da liberdade individual.
Veja-se o caso exemplar do 25 de Abril que ainda há dias foi celebrado. Em princípio deveria ser uma data simbólica da comemoração da liberdade, tout court. Neutra, portanto. A liberdade é um bem comum que permite que todos nos possamos expressar. Deveria ser um património tanto da direita como da esquerda. Mas a direita nunca se sentiu confortável com a data. Não a repudiam inteiramente (seria mal visto) mas também não a assumem. A malta da direita aparece envergonhada nas cerimónias e despreza-a em privado. E deixou com isso que a esquerda se apoderasse do simbolismo e que apareça publicamente como os únicos verdadeiros proprietários da festa. As observações sobre quem usa ou não usa o cravo vermelho na lapela nesse dia são reveladoras desta dessintonia.
A esquerda tem o mesmo tipo de reacção mas de sinal contrário. Se aparecer alguém que não é reconhecido como dos seus a pretender associar-se à efeméride, é provável que seja corrido a sete pés. Porque a esquerda apropriou-se do 25 de Abril, considera-o um coisa sua e rejeita a sua transversalidade.E não há aqui, propriamente uma amor à liberdade individual mas a utilização da carga simbólica do conceito como um factor puramente instrumental de luta política. Veja-se como alguns sectores da esquerda apareceram recentemente a defender as posições dos taxistas contra a Uber. Os supostos direitos de monopólio de um grupo profissional tiveram prevalência sobre a vontade individual de cada consumidor em poder escolher em cada momento o que mais lhe convier.
Conclusão: é difícil ser liberal em Portugal. À direita e à esquerda!