quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Cinema: A propósito de uma "Diva"


À minha "mesa" também vêm frequentemente alguns filmes, ou não fosse eu também um  cinéfilo (embora nem sempre assumido). Fui ver este "Florence, Uma Diva Fora de Tom", sem maiores expectativas do que passar uns momentos divertidos com uma comédia inócua e sem grandes pretensões. Apesar, e este apesar deveria ter sido suficientemente ponderado, deste filme ter a assinatura de Stephen Frears e de contar com a interpretação de Meryl Steep, na minha modesta opinião, só a maior actiz viva, ponto. Como contraponto, percebi que também tinha o Hugh Grant que logo imaginei vir fazer o papel de Hugh Grant que ele faz em todos os filmes em que o tinha visto.

Saiu-me a coisa um pouco ao contrário. Nem o filme era inócuo, nem a comédia inconsequente e até, vejam lá, o Hugh Grant afinal mostrou ser um actor com nunca imaginei. Ele foi a grande surpresa do filme! Estamos em presença de uma comédia trágica, profundamente humana, na forma como apresenta as três personagens principais e as relações que estabelecem entre si: a diva amadora, o marido complacente e o pianista ingénuo. Interessante é que  o filme apresenta vários níveis de leitura capazes de agarrar tanto aqueles que se ficam pela piada fácil dos gritos histriónicos de Meryl Streep como aqueles que ficam tocados pelo drama humano que a sua personagem carrega. Durante grande parte do filme, convenci-me que esta tinha forçado na nota e roçado o burlesco. Mas nos créditos finais ficámos a ouvir trechos das gravações originais de Florence e percebi  mais uma vez que a actriz se transcendeu e absorveu completamente a figura retratada. Também pelo magnífico trabalho dos actores, o filme vale a pena.